por Denys Presman

A vida é muito curta pra gente não tentar realizar nossos sonhos. Não pense duas vezes: faça. Tente. Tente de novo… e mais uma vez. Se não der certo, cerveja!
Por: Denys Presman
Completou agora 30 anos que o Vasco da Gama não vence uma final de campeonato sobre o Flamengo. Eu lembro da última vez que isso aconteceu. Eu estava naquele Maracanã. Foi um jogo daqueles que marcam. Gol folclórico, no fim, de jogador lembrado apenas pelo seu apelido. Cocada entrou, marcou e foi mandado embora pelo juiz. Fim da história.
Fim mesmo. Pois nestes 30 anos, aquela cena, aquela alegria cruzmaltina não se repetiu. Desde então, muitas finais, uma até nacional. E… bom… só deu Mengão.
Graças a Deus, eu também estive presente em todas estas grandes vitórias. Gol do Rodrigo Mendes, gol do Pet. Cantei que o Obina é melhor que o Etoo in loco. Acho até que a piada já acabou depois que vencemos com um gol do Marcio Araujo (repito, Marcio Araujo), em impedimento aos 47 minutos do segundo tempo. Não sei mais o que pode ser “escrito” nesta história…
É um tabu gigantesco em finais. Talvez nenhum outro grande time no mundo tenha imposto um jejum tão severo a um de seus maiores rivais. São trinta anos. Chega até a ser ruim pra história do clássico. Diminui o rival, diminui a rivalidade. Mas… quem se importa?
Na minha memória de torcedor acredito que consigo estabelecer o momento que deu origem a toda esta freguesia. Amigos vascaínos, a culpa é de vocês. Vocês brincaram com os deuses ao tirar o Bebeto do Flamengo, naquele longínquo 1989.
Ele era o xodó da Gávea, o mais promissor “novo Zico” que havia surgido até o momento. A torcida sentiu, os jogadores sentiram. O Flamengo ficou triste. Perdemos um dos nossos. Isso não ia ficar assim, lógico que não.
Naquela época o “folclore” ainda reinava no futebol. As disputas iam muito além das quatro linhas, muito além da rivalidade física. Era coisa de mandinga, de magia e fé. Pelo lado, do Vasco, Pai Santana fazia das suas e decretava vitórias do clube de São Januário. Já Pai Mineiro era o representante rubro-negro para assuntos espirituais. O duelo dos dois foi retratado inúmeras vezes nas reportagens dos jornais.
A saída do Bebeto foi um grande trauma de toda uma geração de torcedores. Incomodou também o nosso Pai Mineiro, que foi categórico: o baiano não iria fazer gol em cima do Flamengo, o Vasco não iria ganhar com ele em campo e também não seria campeão em cima do Mengão.
E veio o primeiro jogo do Bebeto contra o mais querido: Bujica 2, Vasco zero e o jogador expulso.
Em 1990, Pai Mineiro aliviou um pouco para o Vasco. O time da colônia portuguesa estava liberado para empatar contra o Flamengo. Mas Bebeto não iria fazer nenhum gol. Resultado que realmente aconteceu.
Por último, ele deixou na mão dos orixás. Vasco podia ganhar partidas, Bebeto podia fazer gol.
Acontece que o tempo passou e Pai Mineiro faleceu. E, não sei se de propósito ou apenas por descuido, esqueceu de liberar o Vasco de ganhar finais. Trinta anos depois e aqui estamos. Só faltou o Maracanã lotado cantando parabéns pra você.
SRN
Esta crônica é uma licença poética sobre os fatos.
Não será uma invasão. Não! Pois os milhares de torcedores já moram lá. A maior parte do Flamengo, alguns do Fluminense. Que juntos vão mostrar a São Paulo o que é um Fla x Flu. O clássico carioca pega emprestado um estádio paulista, o estádio paulista. E a um dia do jogo, já é possível ter ideia de toda a grandeza que envolve a partida: filas, 20 mil ingressos vendidos antecipadamente (quase o dobro do Palmeiras e São Paulo de semana passada), provocações de agremiações paulistas, inveja.
Curioso, já vimos times invadirem uma cidade. Centenas de ônibus para organizadas. Viajar é divertido, faz bem pra alma. É fácil e todo mundo gosta. Difícil é ser torcedor que paga IPTU, que nasce, trabalha e vive em um local que não é a do seu time do coração.
O Flamengo subverte a ordem. Os torcedores não viajam para ver o Flamengo. O Flamengo viaja para ver os seus torcedores.
Queiram ou não queiram o clube rubro-negro da Gávea é a quinta maior torcida de São Paulo e chegando na do Santos. É normal quem torce para times de lá tentar diminuir. Sentimento pequeno, mas é bom repetir, normal. Humano. De quem não quer admitir o quanto o outro é gigante.
Mas agora, este Fla x Flu no Pacaembu não deixa dúvidas da força de uma torcida, de um time, de um clássico. Um confronto mágico, sempre se reinventando e impressionando a todos. Este é o Fla x Flu da garoa, mostrando o óbvio a São Paulo, que Fla x Flu é Fla x Flu.
Denys Presman é jornalista e brasileiro
Tento entender o tempo,
mas ele está sempre a minha frente.
Olho pra trás e já passou.
Sigo adiante.
Ainda falta.
Paro um instante, respiro.
Entendo por um segundo.
Passa.
Foge logo.
Longe.
Já é amanhã.
Depois de amanhã.
Depois de depois de amanhã.
E de repente volta, pra desespero, o ontem.
Que me faz não perceber,
nem ver,
nem viver o hoje.
Tão difícil de entender o tempo.
E pior, não passa.
Não passa.
Gosto de histórias de amor. Gosto de histórias. E talvez a que conta como a gente conheceu o grande amor seja o maior patrimônio dos apaixonados. Aquela que se repetirá por anos e anos até culminar no “papai, mamãe, como vocês se conheceram?” Esta é a que vale. É a que fica. É o grande orgulho.
Acredito que para quem tem boas histórias, o melhor de tudo é poder dividir, contar, passar adiante. Rir. Até ouvir de quem você ama: “Esta eu já conheço”. De certa forma quem te ama tem que saber de cor e salteado as suas histórias.
Mais do que histórias de amor, gosto de histórias de vida. Daquelas que a gente se orgulha, de quem constrói, de quem faz o bem, de quem muda a nossa realidade. Histórias…. falo do corriqueiro, do simples, do dia a dia e também do grandioso, do improvável. As que se contam tomando um cafezinho, ao pé do ouvido ou empolgado em uma mesa de bar.
Gosto de gente. Gosto de sentar e conversar, de ouvir. Gosto até de história de taxistas, que estão sempre ouvindo histórias dos outros. É o milagre da multiplicação.
E não é que acabou de chegar a mim uma história daquelas? Engraçada, bonita, que faz a gente pensar e até sonhar. Coisa de cinema. Que história! Vocês precisam ouvir também. Tem um pouco de tudo. Estou me coçando para contar. Mas pasmem: não vou. Tão bom quanto contar uma boa história, é deixar pessoas curiosas, por pura pirraça.
A culpa não era do Ferrugem. Mas alguém avisou a polícia, e sabe como é. Negro e ruivo não é um tipo muito comum.
Ele ainda tentou se explicar. Não teve conversa. Todo mundo pra delegacia.
O delegado, um tipão clássico, juntou uma plateia e foi “direto” ao ponto.
– Você deve estar se perguntando por que está aqui.
Ferrugem não tinha a mínima ideia do porquê, porém, nervoso, acabou falando.
– É por causa da Maresia, doutor?
O nome Maresia soou como uma piada de mau gosto e causou um certo alvoroço. A escrivã anotava tudo. O grande contingente de policiais presente na sala fez barulho. Outros mais exaltados pressionavam. O delegado tentava entender.
– É por causa dela?
Maresia foi um amor que veio como um vento forte, úmido, corroendo o mais ferroso coração. Foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Ferrugem se emocionou. As coisas não tinham acabado bem entre eles.
O delegado deu corda. Alguns policiais sussurravam “é por causa da Maresia, sim”, outros retrucavam “ela não tem nada com isso.”
Em algum momento, a informação veio. A alcunha “Ferrugem” havia surgido no decorrer de uma investigação. Ele estava ali para averiguação.
– Averiguação, doutor?
Ferrugem suava.
– Olha, filhão, você sabe que nós estamos aqui para te ajudar a se ajudar, certo?
– Certo, doutor.
– Então… acredito que não quer encrenca pro seu lado. Tá vendo a quantidade de policial que está aqui diretamente interessado no seu caso?
– É sério, não é, doutor?
O delegado percebeu a sinceridade na fala do interrogado. Ferrugem iria colaborar.
– Me conte um pouco de você. Filho único? Mãe solteira? Cursou só até a quarta série? Trabalhador, só que não esquenta a bunda em trabalho nenhum?
Tudo conferia. A cada pergunta, a “plateia” ficava mais agitada.
– Negro e ruivo.
– Sim, sou sim.
– Isso chamou atenção.
– Sempre chama.
– Por que te chamam de Ferrugem?
Silêncio total.
– Ora doutor….
Alguém do fundo gritou: – Fala logo!
Ferrugem se fechou.
– Por que isso é relevante?
Os policiais se irritaram. Xingamentos de tudo que era lado. Vaias. O Delegado ameaçou dar até um tiro pra cima. Não foi preciso. Deram um copo d’água à Ferrugem. Ele aceitou. O interrogatório recomeçou.
– Não é todo dia que nos deparamos com um negro ruivo. E sabemos que os ruivos são chamados de Ferrugem por conta das pintas ruivas no rosto. E você não tem pintas no rosto.
– Não, não tenho, doutor.
– Presta atenção, é importante. Por que te chamam de Ferrugem?
– Então… a Maresia doutor, a garota que namorei….
No meio de todos os policiais, um sargento começa a gritar.
– Ganhei… ganhei… ganhei a aposta. Sabia que era apelido de namorado!
Responsável por anotar os palpites, a escrivã confirmou a aposta feita. Já separava o dinheiro quando Ferrugem se pronunciou novamente.
– Ahhhh, por que não falaram logo que era uma aposta? Não é apelido de namorado não.
O sargento correu pra pegar o dinheiro. Seus companheiros de farda, adversários de causa, não deixaram.
– A Maresia, doutor, me pegou com uma coroa na cama. Não me perdoou e espalhou o apelido de Ferrugem.
– Por que Ferrugem?
– Pois eu tirava a ferrugem da velharada. Nunca mais me deu bola. Uma pena.
Todos olharam para a escrivã. Ela fez o sinal com a cabeça. O delegado retomou a palavra.
– Acumulou!
Ferrugem ainda nem tinha sido liberado e já tinha uma patrulha indo buscar uma testemunha de um assalto em São Cristóvão: um anão conhecido como gigante.
Denys Presman é jornalista e brasileiro
Acabou, agora acabou.
O Rio já vai se esvaziando. Vivendo a ressaca de quem bebeu e se misturou intensamente com diversas etnias. Sem dosar, sem se importar, sem dormir.
Sim, teve uma Copa do Mundo por aqui. Repleta de acontecimentos, grandes ou pequenos, pessoais ou públicos.
Histórias. Memórias. Coisas para não esquecer nunca.
Como naquele dia. Estreia do Maracanã. A cidade sentiu pela primeira vez a tal invasão argentina. Um colorido azul e branco. Gente cantando, pulando, subindo em cima dos quiosques.
Carros, centenas de carros cansados.
Eu estava na arena montada na Praia de Copacabana. Os jogos? França x Honduras, Argentina x Bósnia. Sei lá… pouco importa.
Gente fantasiada de Chaves, Chiquinha, Quico e seu Barriga… eram celebridades. Fila para tirar foto com eles. Eu tirei a minha.
Sei que depois teve show da Beth Carvalho. Todo mundo cantando, sambando. Ela puxou sambas históricos. Homenageou os visitantes com um tango.
Todo mundo na mesma energia. Menos um argentino. Só, no meio da festa. Ele estava com um olhar perdido. Parecia em outro mundo.
De repente, ele se aproxima. Fala comigo e pergunta.
– Quem é esta senhora cantando?
Eu explico. Esta é a Beth Carvalho, um dos grandes nomes do samba. Você está vendo um belo show. Ele, claramente emocionado, me faz um pedido:
– Você pode escrever o nome dela para mim? Quero poder achar a sua obra.
Eu anoto o nome no celular dele.
Ele para, fica encarando o nome na tela do celular.
Ainda abismado com o talento da cantora, o gringo me agradece. Depois volta pro canto dele, sozinho no meio de todos. Tenta cantar junto, mas no final prefere ficar só apreciando.
A música, a boa música… e o talento têm o poder de impressionar.
E agora que a Copa acabou só consigo pensar naquele argentino curtindo a última música do show da Beth Carvalho, ouvindo a multidão cantar.
– Chora! Não vou ligar, não vou ligar. Chegou a hora. Vais me pagar. Pode chorar
Pode chorar.
Que Copa!!!
Trecho da peça A Moça de Preto, clique aqui para ler na íntegra
Moça de Preto – (como se falasse para Pedro) Pedro… Meu pai morreu, Pedro… eu quero sofrer… quero morrer junto, entende? (louca) Me deixa!!!!
(Serena) Pedro não entendia isso. (feliz) Queria me ver feliz novamente. (chorando) Como ousou? Como ousou? Como ousou fazer isso comigo? (revoltada) Como ousou achar que eu não tinha o direito de sofrer pelo meu pai? Pela viuvez de minha mãe… pela minha própria viuvez.
(respira e volta mais serena e louca) Deus só existe no nascimento e na morte. Primeiro a gente agradece e depois xinga.
Pedro fez o que eu menos queria. Tentou me dar esperanças. Falava que meu pai estaria bem, pois sempre foi um homem digno.
(como se falasse para Pedro) Pedro, não vê? Não consegue ver? Toda esta dignidade o levou à morte, não vê? O levou ao sofrimento. A virtude não o salvou de ser um aleijado, um meio-homem, que implorava por mangas!
(para si mesma) Não devia ser assim. O sofrimento não devia fazer parte da regra do jogo. Pedro me falava em algo a mais. Pensava que se eu acreditasse eu suportaria. Me fazia um discurso de que ele acreditava que a vida ia além. Que a morte não era o fim.
(Louca, para Pedro) É o fim!!!! É o fim!!! É o fim….
(Mais serena, para a plateia) Dizia que a morte era apenas uma passagem para um plano espiritual de acordo com o nosso nível de compreensão.
(como se falasse para Pedro) Pedro, eu não compreendo, não compreendo… nem quero compreender e tenho raiva de quem compreende!
(para a plateia) E que meu pai foi um homem muito bom em vida. Que estaria em um lugar belo onde depois eu o reencontraria. Dizia também que a morte não significava nada mais do que uma passagem e que a vida era uma oportunidade de crescimento.
(novamente falando com Pedro, pontuando) Foda-se!!! Foda-se!!! Foda!!!
(depois de pequena pausa, volta a si e ri) Odeio a calma de quem tem esperanças em um depois. Morreu acabou. Ou se não acabou… não sei… Só sei que… (triste) que não tinha mais meu pai comigo.
Trecho da peça A Moça de Preto, clique aqui para ler na íntegra
A morte é o destino inevitável. A gente não tem controle sobre ela. Se a gente não tem controle, ela não deviaria nos abalar. Só devemos gastar nossas forças nas coisas que podemos agir sobre.
Tá, eu particularmente não acredito que a morte é o fim. Mas isso não faz diferença neste momento. Viver depois da morte, reencarnar. Isso tudo é fluxo da natureza e muito disto também não está sobre o nosso controle, sobre a nossa vontade.
E o que a gente controla, então? Somente o essencial: nossa conduta. Não direi que é a única coisa que devemos nos preocupar. Direi apenas que é a primeira e talvez a mais importante delas. È o ponto primeiro em um sistema onde os indivíduos são maiores que as crenças.
Nossa conduta é pessoal e única e embora seja, de certa forma, guiada e norteada por normas existentes no mundo, ela obedece uma ética individual. E aí que está o verdadeiro controle. Não é sobre a morte, não é sobre o futuro. É sobre as condutas individuais.
Temos o direito de escolha para decidir que tipo de ser humano seremos. E a partir deste início, do controle sobre nós mesmos, devemos viver em um mundo que não temos controle. E que vem com toda a força para nos minar, para colocar em teste nossas idéias e nosso controle sobre nossa ética e índole pessoal.
E este é o nosso desafio. Enfrentar o mundo e nos tornamos melhores.
Denys Presman é jornalista e brasileiro