Acabou, agora acabou.
O Rio já vai se esvaziando, vivendo a ressaca de quem bebeu e se misturou intensamente com diversas etnias. Sem dosar, sem se importar, sem dormir.
Sim, teve uma Copa do Mundo por aqui. Repleta de acontecimentos grandes ou pequenos, pessoais ou públicos.
Histórias. Memórias. Coisas para não esquecer nunca.
Como naquele dia, estreia no Maracanã. A cidade sentiu pela primeira vez a tal invasão argentina. Um colorido azul e branco. Gente cantando, pulando, subindo em cima dos quiosques.
Carros, centenas de carros.
Eu estava na arena montada na Praia de Copacabana. Os jogos? França x Honduras, Argentina x Bósnia. Sei lá… pouco importa.
Gente fantasiada de Chaves, Chiquinha, Quico e seu Barriga… eram celebridades. Fila para tirar foto com eles. Eu tirei a minha.
Sei que depois teve show da Beth Carvalho. Todo mundo cantando, sambando. Ela puxou sambas históricos. Homenageou os visitantes com um tango.
Todo mundo na mesma energia. Menos um argentino. Só, no meio da festa, ele estava com um olhar perdido. Parecia em outro mundo.
De repente, ele se aproxima. Fala comigo e pergunta.
– Quem é esta senhora cantando?
Eu explico.
– Esta é a Beth Carvalho, um dos grandes nomes do samba. Você está vendo um belo show.
Ele, claramente emocionado, me faz um pedido:
– Você pode escrever o nome dela para mim? Quero poder achar a sua obra.
Eu anoto o nome no celular dele.
Ele para, fica encarando o nome na tela.
Ainda abismado com o talento da cantora, o gringo me agradece. Depois volta pro canto dele, sozinho no meio de todos. Tenta cantar junto, mas no final prefere ficar só apreciando.
A música, a boa música… e o talento têm o poder de impressionar.
E agora que a Copa acabou só consigo pensar naquele argentino curtindo o último som do show da Beth Carvalho, ouvindo a multidão cantar:
– Chora! Não vou ligar, não vou ligar. Chegou a hora. Vais me pagar. Pode chorar
Pode chorar.
Que Copa!!!