Aí eu morri e fui pro céu. Diante de Deus, tento me explicar.
– Sim, fiz tudo que deveria ter feito. Bom, se fui feliz? E isso é importante?
Senti um pouco de desapontamento na expressão divina. Será que tinha feito algo errado? Acuado, retruquei.
– Era isso que era para fazer, não era?
Deus não falou nada. Neste momento, acho que um anjo, ou algo do gênero, me chamou para um canto. Pensei: Ele não ficou satisfeito com minha vida. Nisso, o anjo respondeu: – Pois é, não ficou. E, a propósito, aqui todo mundo sabe ler pensamento.
Não sabia o que era pior, se Deus, o todo poderoso senhor do universo, ter ficado bravo comigo ou descobrir que neste tal de céu não havia privacidade. E mais uma vez, fui interrompido. Era o anjo. Me reprovou com olhar, que foi o suficiente para eu calar meu pensamento.
Fui levado a algum canto. Uma sala, uma nuvem, sei lá… fiquei esperando. Não entendia o propósito daquilo tudo. Mas, acho que nem na minha fantasia mais megalomaníaca eu chegaria ao céu falando com próprio Deus. Quer dizer, ok… em algumas fantasias eu era o Deus…. porém, ter esta intimidade de ser reprovado pela vida que levei? Era como se um professor de colégio, um professor de física, estivesse reclamando de uma prova que fui mal, dizendo que eu devia tentar de novo. Deus não disse nada… ficou apenas me olhando.
Daí voltou o anjo. Me disse que não ficasse preocupado que tudo ia correr bem. Eu ainda fiz a piada ruim dizendo que meu destino estava nas mãos de Deus. O anjo riu com o sorriso amarelado. Acho que seres divinos não têm permissão para nos deixar sem graça. Eu já estava ficando entediado. O anjo percebeu isso e me esclareceu tudo com uma frase: “Você nunca entendeu nada.”
Pois é… a verdade era essa. Nunca entendi nada, nem o que o anjo queria me dizer. Foi quando Deus mandou me chamar. Olhou pra mim, pensei que ia falar algo, entretanto, não falou. Fiquei nervoso. Queria uma cerveja. Mas achei que o protocolo não permitiria. Então desandei a sorrir e a tagarelar.
– Bom, este é o céu, né? O que há de bom por aqui? Tá certo, tudo que há de bom está aqui.
O anjo sorriu amarelado novamente e repetiu:
– Você nunca entendeu nada.
Agora, o sorriso amarelo era meu.
– E o que faço?
– Volta, ama e seja feliz.
Daí, não sei dizer o que aconteceu. Tudo ficou meio nublado e percebi que Cecília tinha me socorrido. Foi assim que nos conhecemos. Mas acho que outros casais devem ter histórias melhores.
** Denys Presman é jornalista e brasileiro
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