Um pouco de Sade

Posted: 9th março 2011 by Denys Presman in Filosofia, teatro
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O texto abaixo é uma passagem da peça “Sade, o Marquês”, de Denys Presman.(De 1996). Inspirado no livro de Guy Endore “Sade – O santo diabólico”

Clique aqui para ler a peça na íntegra.

(Em cena, Madame Montreuil – sogra do Marquês de Sade;  o Marquês de Sade; e Anne – cunhada do Marquês de Sade – com quem ele tinha um caso de amor e era apaixonado.)

Madame – Vocês dois vivem no pecado.  É incesto, é sodomia.

Sade – Não vejo dessa forma,  na verdade não fiz nada de mais.

Madame – Como não? Seduziu Anne.

Anne – Já disse que ele não me  seduziu.

Sade – Não seduzi.

Madame – Não banque o inocente comigo. O senhor pôs estas suas mãos sujas em minha filha Anne.

Sade – E o que há de errado nisso?

Madame – O que há de errado em seduzir a irmã de sua mulher?  É incesto, sabia?

Sade – Sinto muito.  Simplesmente não consigo ver o que há de errado em pedir a uma moça que me ceda certas partes de seu corpo  que eu particularmente desejo…

Madame – Por Cristo!

Sade – Especialmente porque, em troca, estou disposto a ceder-lhe partes de meu corpo de que ela está desejosa.

Anne –  (Irônica) Vê, mãe, não há nada de errado nisso.

Madame – Deus do céu!

Sade – É apenas por prazer.  Não percebe?  Todo  mundo sempre está desejando várias partes do corpo de outra pessoa.  Nada mais natural.  Ocorre por uma variedade de nomes: Casamento,   prostituição, amor, perversão, pecado.  E quando se cede apenas na imaginação, nós chamamos de masturbação.  Não  importa o nome, o que importa é que ocorre.

Madame – Daqui a pouco o senhor vai me falar que também pratica sexo com outros homens. Pervertido! É por pensamentos assim que o senhor foi condenado à morte.

Sade – E qual foi a acusação?

Madame – Envenenamento e sodomia.  Ah, como eu queria vê-lo morrer!

Anne – Mamãe.

Madame – Ele merece, filha.  Merece morrer em nome de Deus.

Sade – A senhora ficaria muito satisfeita com isso, não ficaria?

Madame – Muito.

Sade – Nada faz o homem mais feliz do que matar em nome de Deus. Pense nisto: poder abandonar-se aos mais baixos instintos  a serviço de um poder mais alto.  Não pode haver melhor combinação.

Madame – Isso é história sua.

Sade – O maior desejo do homem é derramar sangue e, ao mesmo tempo, sentir-se virtuoso por causa disto.

Clique aqui para ler a peça na íntegra.

* Denys Presman não é sádico, infelizmente, é apenas jornalista e brasileiro.

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