O texto abaixo é uma passagem da peça “Sade, o Marquês”, de Denys Presman.(De 1996). Inspirado no livro de Guy Endore “Sade – O santo diabólico”
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(Em cena, Madame Montreuil – sogra do Marquês de Sade; o Marquês de Sade; e Anne – cunhada do Marquês de Sade – com quem ele tinha um caso de amor e era apaixonado.)
Madame – Vocês dois vivem no pecado. É incesto, é sodomia.
Sade – Não vejo dessa forma, na verdade não fiz nada de mais.
Madame – Como não? Seduziu Anne.
Anne – Já disse que ele não me seduziu.
Sade – Não seduzi.
Madame – Não banque o inocente comigo. O senhor pôs estas suas mãos sujas em minha filha Anne.
Sade – E o que há de errado nisso?
Madame – O que há de errado em seduzir a irmã de sua mulher? É incesto, sabia?
Sade – Sinto muito. Simplesmente não consigo ver o que há de errado em pedir a uma moça que me ceda certas partes de seu corpo que eu particularmente desejo…
Madame – Por Cristo!
Sade – Especialmente porque, em troca, estou disposto a ceder-lhe partes de meu corpo de que ela está desejosa.
Anne – (Irônica) Vê, mãe, não há nada de errado nisso.
Madame – Deus do céu!
Sade – É apenas por prazer. Não percebe? Todo mundo sempre está desejando várias partes do corpo de outra pessoa. Nada mais natural. Ocorre por uma variedade de nomes: Casamento, prostituição, amor, perversão, pecado. E quando se cede apenas na imaginação, nós chamamos de masturbação. Não importa o nome, o que importa é que ocorre.
Madame – Daqui a pouco o senhor vai me falar que também pratica sexo com outros homens. Pervertido! É por pensamentos assim que o senhor foi condenado à morte.
Sade – E qual foi a acusação?
Madame – Envenenamento e sodomia. Ah, como eu queria vê-lo morrer!
Anne – Mamãe.
Madame – Ele merece, filha. Merece morrer em nome de Deus.
Sade – A senhora ficaria muito satisfeita com isso, não ficaria?
Madame – Muito.
Sade – Nada faz o homem mais feliz do que matar em nome de Deus. Pense nisto: poder abandonar-se aos mais baixos instintos a serviço de um poder mais alto. Não pode haver melhor combinação.
Madame – Isso é história sua.
Sade – O maior desejo do homem é derramar sangue e, ao mesmo tempo, sentir-se virtuoso por causa disto.
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* Denys Presman não é sádico, infelizmente, é apenas jornalista e brasileiro.
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