Confundindo Ivete
By Denys PresmanUm esquete de humor de implicância!
Personagens:
Ivete/Luciana de Almeida Couto
Jessica
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(Dois bancos, em um deles uma moça está sentada. Ela puxa um cigarro, acende o cigarro, e começa a se concentrar, lendo um texto com folhas de papel grampeadas.)
(Chega uma segunda moça. Ela parece perdida. Tem um ar doce. Olha para todos os lados e se aproxima da que está sentada)
IVETE – É aqui mesmo?
JESSICA – Sim.
IVETE – Mas tem tanta gente?
JESSICA – Muita gente feia, você quer dizer.
IVETE – Nem é isso. Mas eu não esperava…
JESSICA – (interrompendo) Mas é isso sim.
IVETE – Está bem. (olha para os lados, continuando perdida, toma coragem) Esta cadeira está ocupada?
JESSICA – Você está vendo alguém sentada nela?
IVETE – Não… é que está tudo cheio.
JESSICA – (Irônica) Se está tudo cheio, logo esta cadeira está ocupada. (Para a platéia) Gente feia, gente burra. Isso aqui vai ficar um inferno.
IVETE – Desculpe, é que.. está tudo bem? Você parece tão irritada. Está nervosa, né?
JESSICA – Ah, não! Você é uma daquelas.
(Ivete ainda está de pé)
IVETE – Uma daquelas?
JESSICA – Está bem. Senta aí. (Jéssica fecha os seus papeis. Somente agora a moça se senta). Bom, me diga, o que você veio fazer aqui? Você é uma menina bonita. Doce. Parece até ter estudo. Por que não volta para aquela cidadezinha do interior da onde você veio? Você nunca devia ter saído lá, sabia?
IVETE – Mas eu sou daqui mesmo, da cidade.
JESSICA – Dá para ver que não tem malandragem alguma. Vamos lá. Passo a passo, tá? (Quase didaticamente) Qual é o seu nome?
IVETE – Luciana de Almeida Couto.
JESSICA – Luciana de Almeida Couto, certo?
IVETE – Sim.
JESSICA – Não, não, não. Não, está certo. Pergunto o seu nome e você tem que mentir. Inventar um nome. Temos que pensar em nome só para a nossa carreira. (os olhos brilham) Sabe… um nome assim.. artístico, entende. (ri) Vou te chamar de Ivete.
IVETE – Ivete? Meu nome é Luciana.
JESSICA – Ivete, me escute…
IVETE – Luciana, por favor.
JESSICA – Não. Ivete! Você tem que entender…
IVETE – (Nervosa) É Luciana! Luciana!
JESSICA – Fica quieta e escuta, Ivete. Já achamos o seu primeiro problema.
IVETE – Primeiro problema?
JESSICA – Sim, você não sabe ouvir.
IVETE – Não sei ouvir.
JESSICA – Mas sabe repetir direitinho. Surda não é, deve ser algo apenas de cabeça. Você tem problema de cabeça? Falta cálcio na sua alimentação?
IVETE – (Confusa) De cabeça? Cálcio?
JESSICA – Ivete, Ivete, você é um papagaio?
IVETE – Não, lógico que não sou.
JESSICA – Então, passe a escutar as pessoas.
IVETE – Está bem, diga.
JESSICA – Acho que pela numerologia Ivete deve somar um número positivo, como 7 ou 8. Se somar 13 você poderá ter problema.
IVETE – O que?
JESSICA – Calma, fique tranqüila. Te garanto que não vai somar 13. Este nome ainda vai ter dar muita sorte. Tenha certeza disto. Mas agora me diga, Ivete, é sua primeira vez em um lugar como este, não é?
IVETE – É sim. Está tão claro isso?
(Jéssica ri)
JESSICA – Pegue um cigarro.
(Jéssica tira o maço e oferece o cigarro para Ivete)
IVETE – Eu não fumo.
JESSICA – Ivete, não discuta comigo. Faço o que eu digo.
(Jéssica pega o cigarro. Coloca na boca de Ivete e acende. Ivete traga.)
JESSICA – Gostou do cigarro?
(Ivete vai responder, tosse muito e cospe o cigarro fora)
JESSICA – Este pessoal de cidade do interior.
IVETE – Não sou do interior. Sou daqui mesmo, já disse.
JESSICA – Tá bom. Se você quiser acreditar nisto.
IVETE – Mas é verdade.
JESSICA – É verdade, né? Sei, é porque a Ivete não mente nunca pra ninguém.
IVETE – Meu nome é Luciana… Luciana. E não minto mesmo. E quer saber, eu vou mudar de lugar. Não vou ficar mais ao seu lado. Você é muito irritante. (Já se levantando)
JESSICA – Como você preferir. Mas, Ivete… (Ivete olha para Jéssica) pegue outro cigarro antes ir.
IVETE – (Irritada) Eu não fumo. (Vai saindo e olhando para o resto da sala)
JESSICA – (Para a platéia) Não fuma e estava fumando agora a pouco. Este lugar deixa qualquer um louco.
(JESSICA pega novamente seus papéis e fuma o seu cigarro. Depois de dar uma volta, Ivete se senta no mesmo lugar.)
JESSICA – (Mudando de tom como se fosse outra pessoa) Mas então, estava te falando, não pode ser assim totalmente inocente. Podem te pedir para fazer certas coisas.
IVETE – Vai começar de novo? Não quero uma aula, só estou esperando. E você estava sendo muito grosseira comigo. Só voltei porque não tinha outro lugar para sentar e por mais nada.
JESSICA – (Em um tom conciliador) Mas voltou. Isso é importante, você tem força de vontade e sabe persistir nas coisas. Gosto disto. Vamos começar de novo, vamos. Do zero. Ok?
IVETE – Por mim tudo bem. Quero fazer amigos por aqui. Qual é o seu nome?
JESSICA – É Jéssica!
IVETE – Sério? Que nome bonito.
JÉSSICA – Lógico que não é sério, Ivete, não te falei que não se dá nome, que tem que mentir.
IVETE – Já voltou a implicar?
JESSICA – Não… calma… está tudo bem…. mas, você estava me falando… ou eu estava perguntando, por que mesmo você está aqui? Você não me disse.
IVETE – Eu estou aqui pois quero ser alguém, ter o meu dinheiro. Acho que esta é uma oportunidade. Só que tem tantas outras mulheres…. e também não sei se dou pra esta vida.
JESSICA – Sim. Muita gente que quer chegar a algum lugar começa por aqui. As pessoas acham que é um inicio. Agora, sabe, é preciso ter qualidades, Ivete. Você tem qualidades?
IVETE – Eu sou bonita.
(JESSICA ri forte)
IVETE – Tá rindo de que. Sou bonita sim. Sempre fui muito desejada.
JESSICA – Desejada? Homem faz sexo com qualquer coisa. Tão inocente. Mijou sentada já tem gente desejando. Bonita é a Luma de Oliveira, é Daniela Cicarelli, é a Luana Piovanni.
IVETE – Mas até elas começaram em algum lugar, não foi?
JESSICA – Eu não sei de nada! Não boto minha mão no fogo por ninguém. Mas e você, além de se dizer bonita, tem algo mais que possa apresentar? Você tem alguma qualidade especial?
IVETE – Eu sei dançar. Quer ver?
(Ivete levanta e começa a fazer alguns passos de dança, com uma música do musical “HAIR”)
(JESSICA se junta a ela as duas dançam juntas)
(Depois da dança)
IVETE – Viu até você se empolgou com a dança. A dança tem este poder. Contagia as pessoas, a dança é mágica, a dança é uma dádiva dos Deuses. Eu sei dançar.
JESSICA – Você é mesmo uma piada, né? Qualquer pessoa dança, amiga. Eu quis mostrar isso para você. Até eu danço. Este lugar não é para principiantes não. Você tem que saber disto. Vão pedir certas coisas de você que talvez você não esteja preparada.
IVETE – Eu estou preparada, estou pronta. Sei o que fazer e o que pode acontecer.
JESSICA – (Provocando) Sabe? Sabe mesmo? Sabe que tipo de coisa você vai fazer? O que as pessoas vão falar? Ivete, você está realmente segura que sabe tudo da vida? Você ainda é uma menina, outro dia estava no interior com seus pais, tirando leite de vaca e plantando mandioca.
IVETE – (Já não tão segura) Talvez eu não esteja tão preparada. Mas estou aqui com coragem, vou aprender e vou vencer.
JESSICA – Admiro sua vontade. Sua força. Só que… olha. Isso não leva a nada. Ninguém nunca ficou mais rico ou mais famoso só por força de vontade. Força de vontade é para os fracos. Tem que fazer concessões. Você está pronta para isso?
IVETE – Mais que pronta.
JESSICA – Vai abrir esta camisa e mostrar estes peitinhos para todo mundo ver? É capaz de ficar pelada e de fazer coisas que sua mamãe nem te explicou direito e que você aprendeu com algum garoto bobo em uma ruela deserta por aí?
IVETE – Estou pronta para o que der e vier. Eu sou uma profissional.
JESSICA – Uma profissional. Ivete… suas qualidades são a beleza e a dança. Dança né…. como é que foi mesmo que você disse. A arte que os deuses te deram, uma dádiva.
IVETE – Não faz pouco caso.
JESSICA – E se em algum momento estivermos frente a frente. Meus peitinhos de fora, Ivete, os seus peitinho de fora. A gente nuazinha, os homens nos olhando. A gente teria que se abraçar e se beijar. Seu padre ia corar na sua confissão. Você me beijaria, Ivete?
IVETE – Se fosse necessário, eu te beijaria, sim. E faria tudo isso. Estou decidida e sou séria. Muito séria no que eu faço e no que eu quero.
JESSICA – Ivete, me beija agora. Estou falando sério. Me beija.
IVETE – Que isso. Não beijo não. Que coisa mais sem propósito.
JESSICA – Você acha que vai ser uma das moças escolhidas para ficar aqui? Esta sua postura não vai te levar a lugar nenhum. Vamos… vamos… me beija.
IVETE – Você é maluca? É lésbica?
JESSICA – Se você acha que as lésbicas são malucas, você vai ter muito problema por aqui. Só estava tentando provar um ponto de vista.
IVETE – Que ponto de vista?
JESSICA – Que você não tem o que é necessário para se fazer nesta vida.
IVETE – Você acha que não sou capaz de te beijar? De te fazer carinho na frente de todo mundo? De ficar nuazinha e abraçada contigo?
JESSICA – Ah! Pára, você já teve sua chance comigo. Perdeu o momento. Sou romântica. Tá achando que sou fácil?
IVETE – Você acha que estou te cantando?
JESSICA – E não está?
IVETE – Estou apenas querendo provar que estou aqui para o que der e vier. Sem medo.
JESSICA- Faz isso beijando outra moça, ta? Olha para o lado, tem tanta gente bonita. Não eu, por favor. Sou um pouco fechada com pessoas que não conheço.
IVETE – Fechada com quem você não conhece, está me importunando desde que cheguei.
JESSICA – Que eu me lembre foi você quem sentou ao meu lado. Puxou assunto. Fumou meu cigarro e agora há pouco quis me beijar.
IVETE – Eu apenas vim pra cá, estou esperando ser chamada e você começou a falar e dizer que iria me dar conselhos. Isso seria bom, se você desse conselhos de verdade. Afinal, nunca fiz nada assim, sabe, profissionalmente.
JESSICA – Você quer conselhos? É isso?
IVETE – Sim gostaria muito. Você me deixou nervosa.
JESSICA – Bom te dou um conselho. Faça o que te pedirem e faça muito bem.
IVETE – Só isso?
VOZ OFF – (Simultaneamente a fala) Luciana de Almeida Couto, sala rosa, por favor.
JESSICA – Ivete, você quer que eu diga o que? Já te dei um nome, estou este tempo inteiro te preparando. Te digo o segredo da profissão e você ainda me pergunta se é só isso?
IVETE – Mas parece tão pouco. (Nervosa) Não é necessário se concentrar? A respiração não ajuda a cativar? Não é importante? E os segredos para deixar qualquer um satisfeito. Deve ter segredos. Quais são? Me diga!
VOZ OFF – Luciana de Almeida Couto, sala rosa, por favor.
JÉSSICA – Ô garota, acorda! Você ainda nem foi escolhida para o trabalho. Não põe o carro na frente dos bois.
IVETE – É que estou nervosa.
JESSICA – Ivete, relaxa.
VOZ OFF – Luciana de Almeida Couto, sala rosa, por favor.
JESSICA – Olha, não é por você que estão chamando. Esqueceu o próprio nome? Daqui a pouco eles também esquecem e chamam outra garota. (Ivete se levanta) Vá lá e boa sorte.
IVETE – Obrigada.
(IVETE vai saindo do palco. Quando ela está quase fora de cena, JESSICA chama por ela.)
JÉSSICA – Ivete!!!!
IVETE – O que é?
JESSICA – Presta atenção….Se tudo der errado, você sempre pode dormir com diretor.
(FECHAM-SE AS CORTINAS – FIM DO PRIMEIRO E ÚNICO ATO)
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