A praga de Pai Mineiro

Posted: 3rd julho 2018 by Denys Presman in Futebol
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Por: Denys Presman

Completou agora 30 anos que o Vasco da Gama não vence uma final de campeonato sobre o Flamengo. Eu lembro da última vez que isso aconteceu. Eu estava naquele Maracanã. Foi um jogo daqueles que marcam. Gol folclórico, no fim, de jogador lembrado apenas pelo seu apelido. Cocada entrou, marcou e foi mandado embora pelo juiz. Fim da história.

Fim mesmo. Pois nestes 30 anos, aquela cena, aquela alegria cruzmaltina não se repetiu. Desde então, muitas finais, uma até nacional. E… bom… só deu Mengão.

Graças a Deus, eu também estive presente em todas estas grandes vitórias. Gol do Rodrigo Mendes, gol do Pet. Cantei que o Obina é melhor que o Etoo in loco. Acho até que a piada já acabou depois que vencemos com um gol do Marcio Araujo (repito, Marcio Araujo), em impedimento aos 47 minutos do segundo tempo. Não sei mais o que pode ser “escrito” nesta história…

É um tabu gigantesco em finais. Talvez nenhum outro grande time no mundo tenha imposto um jejum tão severo a um de seus maiores rivais. São trinta anos. Chega até a ser ruim pra história do clássico. Diminui o rival, diminui a rivalidade. Mas… quem se importa?

Na minha memória de torcedor acredito que consigo estabelecer o momento que deu origem a toda esta freguesia. Amigos vascaínos, a culpa é de vocês. Vocês brincaram com os deuses ao tirar o Bebeto do Flamengo, naquele longínquo 1989.

Ele era o xodó da Gávea, o mais promissor “novo Zico” que havia surgido até o momento. A torcida sentiu, os jogadores sentiram. O Flamengo ficou triste. Perdemos um dos nossos. Isso não ia ficar assim, lógico que não.

Naquela época o “folclore” ainda reinava no futebol. As disputas iam muito além das quatro linhas, muito além da rivalidade física. Era coisa de mandinga, de magia e fé. Pelo lado, do Vasco, Pai Santana fazia das suas e decretava vitórias do clube de São Januário. Já Pai Mineiro era o representante rubro-negro para assuntos espirituais. O duelo dos dois foi retratado inúmeras vezes nas reportagens dos jornais.

A saída do Bebeto foi um grande trauma de toda uma geração de torcedores. Incomodou também o nosso Pai Mineiro, que foi categórico: o baiano não iria fazer gol em cima do Flamengo, o Vasco não iria ganhar com ele em campo e também não seria campeão em cima do Mengão.

E veio o primeiro jogo do Bebeto contra o mais querido: Bujica 2, Vasco zero e o jogador expulso.

Em 1990, Pai Mineiro aliviou um pouco para o Vasco. O time da colônia portuguesa estava liberado para empatar contra o Flamengo. Mas Bebeto não iria fazer nenhum gol. Resultado que realmente aconteceu.

Por último, ele deixou na mão dos orixás. Vasco podia ganhar partidas, Bebeto podia fazer gol.

Acontece que o tempo passou e Pai Mineiro faleceu. E, não sei se de propósito ou apenas por descuido, esqueceu de liberar o Vasco de ganhar finais. Trinta anos depois e aqui estamos. Só faltou o Maracanã lotado cantando parabéns pra você.

SRN

Esta crônica é uma licença poética sobre os fatos.