É história de torcedor. Sim, e de alguns dos nossos melhores quadros. Vinda das memórias de Ricardo Muci e de Claudio Cruz, que estão entre os fundadores da Flamante e da Raça Rubro-Negra, respectivamente. Sei que dispensam apresentações, mas sempre é bom colocar os pingos nos “is”, dando o devido valor a quem ajudou a erguer a arquibancada rubro-negra.
Ouvi essa por acaso, nas lendárias cadeiras de ferro da Boca Maldita, na sede da Gávea. Trocava ideias com o Muci. Mas esperem, antes de dizer o motivo de toda esta crônica, abro um parêntese. Meio sem razão, sem vergonha de dizer, mas estou apenas criando expectativa.
Se vocês tiverem a oportunidade de conversar com o Muci, normalmente ali pelas mesas do Salete, perguntem sobre a origem do nome Flamante. Vão descobrir que a torcida quase foi batizada de Flamejante. É. Mas calma, havia um Ibrahim Sued no meio do caminho. E o jornalista, ao publicar em sua coluna sobre o nascimento da nova torcida, errou o nome ou não gostou e quis rebatizar. Foi feliz. E o pessoal não teve dúvida. O nome que o Ibrahim deu nos jornais era muito melhor: Flamante! E pegou.
Voltando às cadeiras de ferro da Boca Maldita. O Muci vira e me fala:
– Bicho, tem um jogo que, cara, ninguém mais fala. E a minha memória falha. Não sei mais quando foi. Sei que tinha até um quadro da arquibancada daquele dia na sala da Charanga, no Maracanã. O jogo das velas!
Fiquei curioso. Que diabo de jogo das velas? Uma partida importante do Flamengo que ninguém fala? Mas ele complementou, ainda sem esclarecer muito.
– A torcida estava lá em Moça Bonita, foi capa do “Globo”, do “Jornal dos Sports” ou do “Jornal do Brasil”. Pode ser “O Dia” ou “Última Hora”. Acho que foi na década de 1970. O quadro ficou por anos na sala da Charanga.
As informações aumentavam. Moça Bonita, década de 1970, com foto de capa em quase todos os jornais importantes do Rio. Tentei entender e pedi para ele explicar melhor.
– Me explica melhor? (Repetição de ideia para criar dramaticidade. Você entendem.)
– Rapaz. Foi um protesto. A Federação do Rio havia liberado jogos à noite em Moça Bonita. Os dirigentes, os jogadores, o Coutinho… Isso, eram os anos 1970. Te falei, né? Todos chiaram. Era um breu! Mas a torcida não ia deixar barato. Os refletores em Bangu não davam conta. Tínhamos o dever de ajudar, né? Então, meu amigo, tivemos a ideia: velas! Compramos milhares de velas! Levamos ao estádio Proletário e fizemos a nossa parte para melhorar a iluminação.
Eu não sabia bem o que pensar ao ouvir tudo aquilo. Milhares de pessoas em Moça Bonita com velas nas mãos. Uma procissão, um pedido de bênção ou… bem, apenas um bando de gente mostrando que a ideia de jogos à noite com aqueles refletores não era boa.
Não parecia nem real. Mas pior que era. Afinal, existia a tal foto, registrada em jogo não identificado e que podia ter sido capa do “JB”, “Globo, “O Dia”, “Última Hora”, enfim. Como achar isso?
– Rapaz, liga pro Claudio, o Claudio talvez lembre.
Liguei. Não lembrou. Top! Top! Top! (onomatopeia by Henfil. Significado: se fu… deu mal).
Mas somos flamengos e não desistimos nunca.
–Beleza. Mas do que você lembra, Claudio?
– De entrar na loja Fabrica de Velas que ficava ali na Marechal Floriano e pedir milhares de velas.
Eu ri, juro. Pois fiquei a imaginar a cena:
– Bom dia. Por favor, cinco mil velas.
– Oi? Cinco mil velas?
– Isso aí. É que a torcida do Flamengo precisa iluminar o estádio de Moça Bonita.
Vão dizer que não foi exatamente assim. Mas não quero saber, vou defender para sempre esta versão.
O Claudio não lembrava em qual jogo tinha sido. Não lembrava o ano, acreditava também que foi nos anos 1970. E o adversário? Bem, lógico seria dizer que foi o Bangu. Mas não era certo. E não foi mesmo. E eu sei disso, pois fui atrás.
Cuidado ao abrir. É que o “moça bonita” sempre complica buscas do Google.
Brincadeira. Mas a busca foi séria. Fui ao Flaestatistica. Vi os jogos do Mengo em Moça Bonita de 1976 a 1983. Com as datas, busquei no acervo de “O Globo” os horários dos jogos. Separei os que foram à noite. Eram três. Todos entre agosto e outubro de 1978.
Nada no site do Globo. Abri a hemeroteca da Biblioteca Nacional (BN). Não descobri nada no “Jornal do Brasil”, nem em “Última Hora”, nem “Jornal dos Sports”.
Estava no “Dia”, pensei. Me fu… dei mal! É que “O Dia” não está online.
Fui fisicamente na bela Biblioteca. Ia descobrir o mistério. Pois exatamente os meses que eu caçava não estavam lá. Restava a última opção. O acervo de “O Dia”. Consegui o contato com amigos. Primeira resposta não foi boa:
“Os meses que você quer não estão digitalizados, vamos olhar nos jornais físicos.” A segunda resposta: “Estes exemplares não estão entre os jornais físicos.” Pensei que seria o fim. Mas a moça do jornal não deixou de acreditar. Talvez estivesse no repositório dos jornais em restauração. Bingoooo! Estavam.
No dia 12 de outubro de 1978, o jornal “O Dia” trouxe em sua primeira página uma foto da arquibancada do estádio Moça Bonita durante o jogo Flamengo 3 x 0 Bonsucesso. Os gols? Tita, Zico e Cláudio Adão.
Na capa, torcedores e torcedoras rubro-negras seguravam velas acesas nas mãos. Entre todos, Ricardo Muci, Zé Vaz – ex-Charanga e fundador da Dragões Rubro-Negros, juntamente com o Ernesto Escovine – e Claudio Cruz.
A legenda dizia: “Como os jogadores, a torcida do Flamengo também não gostou da iluminação do estádio banguense e acendeu velas nas arquibancadas para gozar a falta de luz.”
Que “Dia”! Missão cumprida. Foto em mãos, levei para Ricardo Muci ver. Muito feliz, espiou a imagem por cima dos óculos e me agradeceu:
– Incrível. A torcida com as velas, eu novinho e a barriga do Zé Vaz continua na capa do jornal. Exatamente como eu me lembrava.
Moça, mulher, maravilhosa… mimo muito. Adorável, admirável, arriscaria abraçar acaloradamente, a apertar, a amigar… amantes amigam, acredite. Rindo? Jeitosa, justifica juras… já já juro. Ostento otimismo, ouso. Romântico, rabisco roteiros radiantes. Idealizo instantes. Ela é encantadora, exuberante, e eu especialista em elogiar eloquentemente… ela.
Morreu Pelé, a camisa 10 está de luto e a bola inconsolável. Obrigado, Rei do Futebol.
Acaso, será? Destino? Sei lá. Com certeza, intervenção dos Deuses do futebol.
O encontro entre a camisa 10 e Pelé é uma das coisas mais aleatórias já vista. Quase um encontro às cegas. E ao mesmo tempo tão óbvia, mas ninguém tinha antevisto esta história.
– Como assim? Que dúvida? Eles se combinam, se completam, precisam estar junto. São um só.
É ululante!
Ah… mas naquela época, Pelé ainda não era Pelé. Era um garoto, uma criança, um Edson, um Dico, um mortal.
Já a camisa 10 também não tinha esta moral toda. Era só um número ainda a procura do seu grande amor.
Apesar de gritante, óbvio, ninguém pensou em juntá-los. De fato, não juntaram.
O cupido deste caso de amor, a mais perfeita definição de completude, é um desconhecido.
A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) teria esquecido de enviar a numeração dos jogadores na Copa do Mundo de 1958. Por isso, alguém a escolheu por ela. Critérios? Não….
Gilmar, o goleiro, com 3; Zagallo, ponta-esquerda, com a 7; Garrincha ponta-direita, com a 11; Zózimo, zagueiro reserva, com a 9. E aquele adolescente, de 17 anos, Edson Arantes do Nascimento, Dico, Pelé ficou com a 10.
Zagallo acredita que a numeração final que acabou sendo usada foi a das malas.
Mas a gente sabe. Foram os Deuses do Futebol. Estava escrito há 5 mil anos…
Um amor que nasceu por acaso ou por destino. Uma história tão inocente, virou algo tão pornográfico em campo, de dar prazer a multidões.
Uma orgia futebolística que invariavelmente terminava em gol.
Um ménage entre a 10, a bola e o Rei.
Não é a camisa 10 que faz o craque.
Ela foi moldada no suor e talento de um rei, do maior.
Do amor.
Majestosa. Emblemática. Mítica.
Muitos lutavam para ser merecedores.
Poucos, realmente conseguiram.
É normal a comoção quando alguém importante ou famoso morre. Muitas histórias são contadas. Obituários, biografias, notícias, documentários. Normal.
Pelé morreu.
Tudo isso nos meios de comunicação.
Porém uma coisa, particularmente, nunca tinha visto em momentos assim. Foram várias matérias de pessoas dizendo que o Pelé salvou a vida delas.
– Cabrini detalha o dia em que Pelé salvou sua vida – Metrópoles
– Rei salvou a vida do fotógrafo Sebastião Salgado – Uol
– Pelé me salvou de ser preso por militares em uma guerra no Sudeste Asiático – Leonardo Sakamoto, colunista da uol
Não, Pelé não estava nestes locais de guerrilha ou guerras no momento do perigo.
Não, ele não apareceu do nada com uma faca nos dentes e com fita vermelha na cabeça.
O simples fato das pessoas serem brasileiras, do país do Pelé, lhes deu um passaporte para a segurança.
Tudo muito simplista, muito puro. Quem é do país do Pelé deve ser gente do bem.
Estaria Pelé entre os 10 nomes mais conhecidos de toda história da humanidade (não os mais importantes necessariamente)?
Minha lista: (sem ordem)
Jesus Cristo
Maria
Maomé
Pelé
Cleopatra
The Beatles
Chaplin
Napoleão
Hitler (infelizmente)
Mickey Mouse (desculpem)
Tinha uma história de que na TV norte americana apenas três nomes não precisavam de legenda quando apareciam na tela: o presidente dos EUA, o Papa e Pelé.
Não é como as outras. Acreditem! Ouso dizer que nunca vi ninguém mais bela.
Serena. Ela gosta do privado, do tranquilo. Isso é o jeito dela, o charme dela!
Oro para que nunca mude.
Na real? O que faz dela especial, única… é porque ela voa. Meu Deus, ela não se limita apenas a terra ou ao mar. Ela é ar!
Dela é o céu. Embarco seguro nesta viagem. Levo sonhos, ilusões na bagagem de mão. Antes de aterrissar, aperto o cinto, e, sorrindo, sei que cheguei ao meu destino.